quinta-feira, 20 de março de 2014

20 DE MARÇO: DIA MUNDIAL/NACIONAL DO TEATRO PARA A INFÂNCIA E JUVENTUDE




Mensagem de Yvette Hardie - CAMPANHA 2014 - LEVE UMA CRIANÇA AO TEATRO HOJE

Relembrando a conhecida citação de Nelson Mandela: "Entendemos e promovemos uma ideia: a de que, apesar de precisarem de orientação, as crianças também tem o direito de ser o que elas quiserem ser, e que a única maneira pela qual ela podem conseguir isso é nós lhes oferecermos espaços para os seus sonhos e para que vivam seus sonhos."
Nós da ASSITEJ estamos convencidos de que o teatro cria os espaços ideais para que as crianças possam sonhar e viver seus sonhos. As ideias de Mandela sobre as crianças foram cruciais para que ele fosse a pessoa e o líder que foi.
Nos encontros de Mandela com as crianças vemos revelada a profundidade e a dimensão da sua humanidade; sua predisposição lúdica e sua capacidade para o humor e para o prazer; sua atitude respeitosa: levava muito a sério os pontos de vista das crianças; sua crença sólida no valor da educação como a mais poderosa das ferramentas que possuímos; sua determinação em sempre encontrar tempo para as crianças, mesmo que na presença de outros líderes mundiais; e seu compromisso com as crianças através do trabalho continuado de suas fundações. Em todo ele está o selo distintivo do seu legado. Como fazedores de teatro, que tratamos de criar esses "espaços para sonhar", nos aproximamos dos nossos espectadores com o mesmo nível de humildade, respeito, boa disposição, confiança nas suas capacidades e humor que ele, Mandela, demonstrou ter?
E, de maneira mais geral, asseguramos que as crianças - TODAS as crianças, sem distinção de classe social, raça, idioma, ou qualquer outro fator - recebam espaços para sonhar suficientes e suficientemente excelentes?
Em 2014 a Declaração dos Direitos das Crianças completa 25 anos. Ela é a manifestação mais completa dos direitos das crianças que já foi concretizada, e é o tratado de direitos humanos mais amplamente ratificado na história. Mas apesar da maioria das nações ter assinado a convenção, quantas verdadeiramente levam a sério esses direitos? Quantas tornam esses direitos uma realidade?
Mas isso não é uma responsabilidade unicamente das nações. Ela também está nas nossas mãos. Neste dia 20 de março, Dia Mundial do Teatro para a Infância e a Juventude, a ASSITEJ convida todos a participar da nossa campanha: "Leve uma criança ao teatro hoje". VOCÊ pode fazer com que as coisas sejam diferentes para as crianças e os jovens com os quais entra em contato. Ofereça a eles um espaço para sonhar, leve-os ao teatro ou leve o teatro até eles, mas faça com que esse contato mágico aconteça!
Como disse Mandela: "A história nos julgará pelas mudanças que fizemos na vida cotidiana das crianças".

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Mensagem do Dr. John Kani

Nasci há setenta anos. Cresci no distrito de New Brighton, segregado racialmente, nos arredores de Port Elizabeth. A vida para mim e para muitos dos meus amigos consistia em acordar e, se tivéssemos sorte, ir à escola. Caso contrário, passávamos o dia vagando por aquele bairro marginal, vendo como nossas vidas eram desperdiçadas sob o cruel sistema de segregação racial chamado na África do Sul, meu país, de Apartheid.
Um dia, nossa professora de inglês nos levou para assistirmos uma produção de "Macbeth", de William Shakespeares, na Casa da Ópera da cidade de Port Elizabeth. Estávamos todos muito entusiasmados. Mas não por assistir a peça; era uma oportunidade de irmos à cidade. Nos deleitávamos com a expectativa pela viagem de ônibus. Nos sentamos no teatro, as luzes se apagaram lentamente na sala. A cortina se abriu e aconteceu a magia. Foi minha primeira experiência num teatro de verdade. Desde esse dia, em 1958, minha vida não foi mais a mesma. Não entendi muito da peça, mas estar naquele teatro me fez sentir que eu era parte da magia que acontecia naquele lugar. Não pude deixar de falar da peça e da experiência desse dia. Inclusive por um momento me esqueci do Apartheid, até me esqueci que vivia num arrabalde, onde se podia ver e sentir o cheiro da pobreza.
Me sentia transportado a um mundo novo, não só o da minha imaginação, mas um mundo maior ainda, cheio de possibilidades.
Sei que a educação é uma chave para todas as portas. O teatro abre a porta para sua própria imaginação.
Desde esse dia, prometi a mim mesmo que alguma vez estaria naquele lugar, contando todas as histórias que minha avó nos contava a cada noite, antes de dormir.
Levar uma criança ao teatro é um presente que faz essa criança mais forte, lhe dá o poder de querer ser escutado. Faz com que a criança, menino ou menina, creia que também tem uma história para contar e que um dia ela irá contar essa história.


Sobre John Kani

Nasceu em 1943, em New Brighton, Cabo do Leste, na África do Sul. É um ator, diretor e dramaturgo sul-africano.
Kani uniu-se em 1965 aos Comediantes da Serpente em Port Elizabeth (grupo de atores cuja primeira apresentação foi no antigo serpentário do zoológico, daí seu nome) e ajudou a criar muitas peças que nunca foram publicadas, mas que foram representadas com grande êxito. A essas peças, seguiram-se outras, famosas: "Sizwe Banzi está morto" e "A ilha", escritas com Athol Fugard e Winston Ntshona, no começo dos anos setenta.
Kani também recebeu uma indicação ao Prêmio Olivier por seu desempenho na peça "Meus filhos, minha África!". Suas peças tem sido encenadas em todo o mundo, inclusive em Nova Iorque, onde Kani e Winston Ntshona conquistaram o Prêmio Tony em 1975 por "Sizwe Banzi está morto" e "A ilha". Estas peças atingiram mais de cinquenta apresentações no repertório do Teatro Edison.
"Nada mais que a verdade" (2002) foi a primeira peça escrita somente por Kani, e foi apresentada pela primeira vez no Teatro do Mercado, em Johannesburgo. Esta peça se passa numa África do Sul pós-Apartheid e não tem relação com os conflitos entre brancos e negros, mas com as lutas entre os negros que permaneceram na África do Sul para lutar contra o Apartheid, e aqueles que partiram para retornar somente quando o regime tivesse caído. Kani ganhou o Prêmio Flor do Cabo como Melhor Ator e Melhor Texto Dramático sul-africano. No mesmo ano, recebeu o Prêmio Obie, na categoria especial, por sua extraordinária contribuição ao teatro dos Estados Unidos.
É Conselheiro da Fundação do Teatro do Mercado, fundador e diretor do Laboratório do Teatro do Mercado e Presidente do Conselho Nacional das Artes da África do Sul.